sábado, 8 de novembro de 2008

pausa

Ontem, parafrasei aqui: não existe covardia maior do que se jogar na frente de todos os seus inimigos.

Agora me ficou claro que enquanto tomávamos cerveja de trigo circundávamos situações bélicas, mas falávamos de outra forma de luta. Não a guerra de um estado contra um estado ou nem mesmo exatamente uma disputa entre um homem contra outro homem. Não, como sempre a nossa questão era a respeito de como viver com nós mesmos, em como sermos um outro em nós, através de uma ética, e por isso discutíamos o que se pode fazer com o desejo e seus derivados, prazer e dor. Acho que negá-los ou cegá-los sempre pareceu uma bobagem. Realmente, o desejo é uma coisa maravilhosa. Mas falávamos sobretudo de procurar a chave do intervalo, da necessidade da pausa, da convivência e só. De se recolher em frente à algo que é de si mesmo até encontrar ninguém.

Si
tua
ção
que
nos é negada sumariamente.

- -
Todo esse papo do indíviduo deu no saco. O indivíduo é uma realidade que caminha.

Eu, por mim, continuo dependendo de Drummond: Não, meu coração não é maior que o mundo/.../ preciso de todos.

- -

Dar uma festa silenciosa.

- -
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.

(Drummond, Mundo Grande)

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Refugiamo-nos no amor. E ele se muda, ele nos deixa de manhã cedo na cama e leva junto seus cem nomes. Nos ocupamos no trabalho. E ele é insuficiente e exaustivo. Drummond: "Convive com teus poemas, antes de escrevê-los." Ao que estendo: convive com teu ódio, antes de odiá-lo. Há uma presença sem a presença. Há de convivê-la. Convive com teu amor, enquanto amas. Há tempo para ambos, há tempo para os dois. Haverá tempo de nos vermos, de nos estarmos, de nos deixarmos.

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2 comentários:

marcos disse...

De uma fome de afagos, tigres baços
Vêm se juntar a mim na noite oca.
E eu mesma estilhaçada, prenhe de solidões
Tento voltar à luz que me foi dada
E sobreponho as mãos nas veludosas patas.

E sobre os fulcros dentes, ali
É que passeio e deslizo a minha fome.

Então se aquietam de pura madrugada
Meus tigres de ferrugem.
Como se mesmo a morte os excluísse.

júlia disse...

Que as barcaças do Tempo me devolvam
A primitiva urna de palavras.
Que me devolvam a ti e o teu rosto
Como desde sempre o conheci: pungente
Mas cintilando de vida, renovado
Como se o sol e o rosto caminhassem
Porque vinha de um a luz do outro.

Que me devolvam a noite, o espaço
De me sentir tão vasta e pertencida
Como se águas e madeiras de todas as barcaças
Se fizessem matéria rediviva, adolescência e mito.

Que eu te devolva a fonte do meu primeiro grito.

 

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