sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Passo a tarde montando nos meus hiatos. Encontro textos à máquina:

Por que a literatura brasileira atravessa uma fase de caretice? De algum modo, quando alguém se bota a escrever, é necessário pensar: quais são as margens desse quadrado chamado literatura nessa língua que cultura hoje? De algum modo, de novo, quando alguém escreve nossos padrões contemporâneos também são margeados (ou não), por uma série de valorizações, colocações, escolhas, que levam, por exemplo, a pensar: ele escreve: mas escreve como outro. Como Beckett seria melhor, mas ou o autor escreve aqui como - - paródia citação fagocitose soluço, etc -- Mas se são recursos, se falamos de recursos, na mesma medida que são controláveis os escritores repõem uma medida, centralizam novamente às margens, dão uma anestesia permanente no sujeito trancafiado em bares, convivendo com pessoas que na realidade detesta, mas que nem percebe!, afinal nem isso se pode sentir, já que, somos brasileiros e o mundo é norte-americano (por quanto tempo?), o que faz, afinal que respeitemos as diferenças. e, com elas, as adversidades. Mas essa literatura faz o quê? então? ameniza?

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Ao mesmo tempo que sabemos que o excesso de experimentação sempre pode revelar o negativo do arbitrário. O múltiplo do arbitrário. Quer dizer, o arbitrário como múltiplo exponencial. E cresce, cresce, cresce. Feito se tivessem colocado fermento no arbitrário.

E esse arbitrário em exponencial, de tanta consciência oriental de que você poderia ter nascido naquele besouro, como aquele besouro é você, o apagamento lógico de qualquer possibilidade de escolha. Isso, ao acúmulo do junk space. Isso. Ao excesso de publicidade. Isso, ao excesso de ofertas de sabonetes que me constrange, sabão em pó, produtos de higiene geral nos supermercados. Conteremos um dia todas as pragas se nem nós mesmos? Serão mesmo excessos? Ou o Largo da Batata. Vocês me desculpem, mas eu adoro o Largo da Batata.

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Escrevo num limiar muito concentrado em mim mesma. As linhas disso, só a antropofagia tropicalista nos une e toda mulher é uma sanguessuga qualquer. Dou muito em diários. Mas não sei quem vive meus diários. A grande experiência dessa escrita diária é que as linhas disso são menos regidas pelo que já está normalizado em literatura. Ainda somos modernos? Queremos a forma e a falta de forma. Queremos o in vitro e também o orgânico. Queremos sobretudo não falhar. Mas falhamos. Não precisa de mais ninguém pra dizer isso. Samuel Beckett já fez o bastante. Já? O bastante? Não me faça rir. Escritórios criam posições demais estupidificadas pra um corpo de gente. Ele, que vai descendo por todas as ruas. É sério. Eu não tenho escapatória de mim mesma. É preciso virar improvável. Mas o que é o literário? o falso? o deslocado? o fora de si? Dentro de oitenta anos estaremos todos mortos. No português não há palavras sintéticas para dizer o futuro.

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