sábado, 4 de outubro de 2008

uma palavra que falta

Num ano de acordo ortográfico, me parece importante constituir algum lugar de fala da língua portuguesa que reúna. Não sei se isso também te interessa. Sabemos bem, por necessidades reais mas ultrapassadas em tempos de Internet e independência consolidada, que a literatura brasileira se constituiu desde os românticos até os modernistas numa tentativa de abrasileiramento contra Portugal. Desde o projeto de "uma língua brasileira de literatura" presente no Alencar, passando pela antropofagia, o imperativo foi negativizar Portugal. Alguns tropicalistas até tentaram parodiá-los, mas sim, continuaram no registro do arremedo. É difícil sair desse registro. Temos preconceitos claros contra Portugal. Nos constituímos tanto por marcar as diferenças necessárias que agora não sabemos mais onde encontrar Portugal. O que fazemos? Rimos. O que mais se sabe fazer com são piadas. Assamos o Sardinha, passamos tanto tempo negando Portugal que agora nos são uns estranhos. Mas uns estranhos de família. Aqueles indesejados que vem para o Natal e duvidamos se neles se pode confiar, ao mesmo tempo que nos excitam com a surpresa. E, sim, é claro, falamos uma mesma língua, viva e cambiante, escusada de dizer que periférica, mas semelhante, completamente diversa e a mesma.

E, esse acordo ortográfico?, é claro que somos a favor de qualquer acordo com um outro que se respeita, mas em primeiro lugar, o acordo tenta esconder as diferenças , camuflá-las, num movimento bem politicamente correto e pouco lúcido. E, principalmente, se a intenção é aproximar as línguas portuguesas o que eliminar meia-dúzia de códigos ortográficos pode produzir de aproximação frente à décadas e décadas e décadas, quiçá séculos, de distâncias? Se querem nos aproximar tanto quanto eu gostaria que nos aproximassem, deveriam criar formas de acesso culturais, históricas, permanentes. Mas não, isso temos em comum desde tempos imemoriais, isso nos une: criar solução de tomar uma pequena medidazinha e gastar mais em dizer do que em fazer mesmo.

Temos de partida esse problema do nome da língua que os falantes do castelhano não tem. Podem dizer tanto na Argentina como no Peru ou na Espanha que falam uma língua sem vinculá-la ao nome de uma nação atual. Se calhar, um mexicano pode dizer “hablo castellano” sem que a memória ligue necessariamente o nome ao antigo reino de Castela. Para nós, no Brasil, em Angola, Cabo-Verde, etc, não temos uma solução sintética. Temos a solução dupla: “português do Brasil” ou “português brasileiro”, que continuam vinculando a língua em alguma nacionalidade específica. Mais, para um desavisado confuso, vincula a língua em duas nacionalidades. Nos falta uma palavra. Essa falta significa algum sintoma? De todo modo, não me sinto à vontade em dizer: sou a favor de uma língua portuguesa, portuguesa aqui como "castelhana", uma língua escrita em português que por conhecer as diferenças de seus vários usos expanda o uso lógico e vocabular, sintático e semântico, da mesma língua.

Ou seja: continuo lutando por um estilo.

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