sábado, 28 de fevereiro de 2009

pondo-me em contato

(...)

Porque somos uma constelação, realmente. E quanto mais livre vou ficando, mais o universo em expansão se desatrai, quantas dúvidas são só justamente isso? uma maior frouxidão entre os limites?, mais sem limites fico constelada por dentro as órbitas enormes enormes o tempo tão outro tempo e mais firme e afogada quando a maré volta, então o que eu queria é a margem de terra que fica ali, presente, que se completam, como a água completa o ar a terra completa os dois e o fogo converge outra coisa em contato com tudo. E então? Mas a areia molhada, é água ou terra? E a poeira no ar? E as partículas de oxigênio entrando do céu para dentro do mar? São de penetrações assim que eu tenho falado. Sim, o mundo nos une. Não me interessa rejeitar, prefiro conceber.

(eu não consigo escrever e isso é terrível. se o Lobo Antunes diz que ficar sem escrever é penoso o mundo acha lindo. a Clarice todo mundo reitera de como desde criancinha era uma atividade inescapável desde o princípio. e eu, que existo, nasci de uma mala e nunca tive pai para amar com respeito, vou sendo vista como uma pomba trôpega?)

(...)

E então, volto ao livro que ganhei de presente. Não consigo ler nada (embora o tom desse escrito seja a CL que leio dois parágrafos por dia hoje me levantei às 7h abri o livro sobre a cama li dois parágrafos e dormi e sonhei que nós dois éramos dois pequenos grãos de arroz cru em cima de um tecido e quando acordei esses grãos estavam pela parte de dentro do meu esterno. No mesmo lugar quando no Rio de Janeiro sonhei com uma música dos xxxxxx e quando acordei havia um diamante entre o meu peito e o travesseiro e da janela de Santa Teresa a Central do Brasil marcava cinco horas e um tantinho a cidade ainda quase escura mas já deveria ter gente pra lá e pra cá eu vi um jatinho passando uma estrela e a dinamarquesa dormindo só de calcinha e lembrei com a nuca empapada de que de tarde ela me veio com um documento de passaporte mostrando que ela tinha o mesmo sobrenome que eu, justamente brasileira), então, como já disse, desde que terminei xx xxxxx tudo me enfastia, mas leio a todo tempo de um modo estranho. Como escrevo de um modo alheio. Tenho um amigo de muito tempo que me diz sempre que o melhor modo de se aproximar de um livro é lendo-o as páginas ao acaso. Trechos. Interrupções. A experiência macro do micro. São esses meninos dispersos de olhos com jardins. Sou um deles. Então, então, abro-o ao acaso. E faz dois meses que o livro me circunda. É um laço de corpo mesmo, a direita e a esquerda que há de me abraçar. E não brota do livro o corpo dele, é uma coisa assustadora. Posso olhar e fazer o maior esforço que seja, esforço que poderia fazer chover sobre o livro, mas de dentro dele não saem as pulsações de braços e respirações daquele do livro. E de tanto ver os papéis-cartões, não sei mais vê-los, embora às vezes me assustem ao tombar a letra esplêndida. Me retiro deles, abro o livro ao acaso, leio oito frases e fico embasbacada. E eu sempre fui assim com esse escritor. Foi o primeiro escritor de uma língua que me indicou que a minha língua era diferente. Quem? Bem, é um segredo, diria ele e o escritor, sem se preocupar nenhum um pouco com você, ou por se preocupar tanto quê - - - . Então eu fecho rapidamente o revelador de segredos. Volto a olhar o coração embasbacado. Penso será que ele me disse isso mesmo? Abro novamente. Fecho. Disse. Nunca sei o que ele disse. Então copio trechos para ver se os fixo na transformação de entendê-los. A máquina de escrever a máquina de computador a máquina de caneta. Se não as tivesse, escreveria com que necessidade? C.L. que me perdoe, mas isso sim que é texto-lava.

De todo modo, estamos em março.

De todo modo, o grau de autoconsciência só aumenta e se um dia eu me atirar contra uma parede com a cabeça que ela esteja acolchoada.

Adeus.

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