quarta-feira, 7 de abril de 2010

I now, it's over

tenho algum medo de voltar a europa, sabes, xxxx, medo de me tornar as coisas de pedra. essa cidade aqui é puro delírio e fuligem, mas no entanto o mato cresce como se gritasse, ainda mais esse ano que choveu tanto (viu os mortos no rio de janeiro?, é, um horror). mas as árvores se comoveram, estão estufadas. e o mato cresceu dois metros, nas beiras das estradas. talvez se arrumassem vacas elas cortassem melhor o pasto do que a prefeitura de são paulo.

desculpe-me que às vezes te escrevo tão literariamente como se ainda se trocassem cartas e não esses imediatos de emails. julgo às vezes ser desnecessariamente intensa ou só mesmo excessiva sabendo que você não tem tempo, que ninguém nesse mundo tem tempo e que eu só tenho tempo porque sou uma espécie de parasita do tempo livre.

creio que acabou também em mim o tempo de ceifar o silêncio. é impressionante como a vida muda e às vezes só uns choques (transatlânticos) nos fazem perceber. só em sp percebi que vivo em lx. só em lx perceberei que vim até sp.

ou, melhor: o texto: pensa comigo: o freud inventou o inconsciente e um século inteiro ficou fraturado dele. mostrando isso que acontece entre o que é visível e o que vê, que é o que é pensamento, memória. a literatura tratou disso e não só. sei falar de narrrativas. por exemplo, aquele filme lindo que você gosta, o "morangos silvestres", o encontro com as frutinhas que desenlaçam a lembrança do que ele foi, do que ele se tornou UM MURO para o qual já não há mais tempo. ele encontra alguma ternura. ou o proust, a madeleine no chá de tília, e nove romances de travessia. eu quero escrever como uma flor no momento que eclode, do casulo à borboleta, a memória como um ovo estatelado. o que quer dizer: sou escritora e: não estou mais fascinada pela memória. ela é uma faculdade como a respiração. e a vida?


também quero encontrar a nudez. porque no !cantos de estima" estive atrás da infância como um procedimento. uma infância como diversão perante ao delírio do mundo. por isso a ordem dos planetas. mas agora acho que cresci. a criança já vive em mim. a criança que fui, que serei, que terei. feito um abacate. acho que fica bonito na minha idade a idéia da nudez. de um corpo feminino mesmo. ou a nudez da palavra. da palavra como um corpo feminino, fértil. brotar, apresentar a palavra como um ovo frito estatelado.

estou aberta para o esquecimento

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter