os primeiros versos do Four Quartets do T.S. Eliot
Time present and time past
Are both perhaps present in time future,
And time future contained in time past.
(...)
Time past and time future
What might have been and what has been
Point to one end, wich is always present.
é algo parecido com essa a atenção que o budismo faz do tempo, acho. de que o presente é o ponto de convergência de virtualidades do passado e do futuro. o presente teria que ser assim um estar-se?
#
acontece que nascemos e morremos e muita coisa acontece entre um acontecimento e o outro. há uma maneira crítica que se propõe a pensar a morte como uma necessidade de consciência, pensamento e confronto. porque não devemos nos alienar da morte. ela sempre se lembrará de nós. a morte é a pior das lembranças necessárias. se essa lembrança faz viver, melhor.
a maria zambrano escreve que não sabe porque não se tenta pensar o nascimento com o mesmo grau de mistério e confronto. o nascimento irradia uma energia implacável, não um cessamento, mas nem por isso é mais confortável.
se pensarmos no corpo-mundo, a morte não é um cessar, a morte também explode. se no singular uma imobilidade estúpida para um corpo tão lindo, tão vivo, num ponto de vista mais alargado a morte mostra o caráter oceano: de que cada ser vivo é uma gotícula orbitando-se num organismo planeta,. a morte vem torná-lo o que já é: carne do mundo, putrefação, adubo, cinzas.
mas somos seres históricos, sentimos saudades e gostamos uns dos outros.
e eu, pelo menos, dor e liberdade nos esquecimentos.
#
lembro de um amigo contando que quando seu filho nasceu, a primeira coisa que o menino fez não foi chorar, mas sorrir.
e nos luminosos feixes de todas as coisas e tempos, mergulhar nas transparências sem fantasmas.
#
penso que o passado tem as mesmas instâncias de desejo, medo e ilusão que qualquer vista de olhos tentando ater-se ao futuro. muito da literatura do século XX colocou-se a dizer isso. Proust, nosso campeão.
no primeiro poema do meu novo encantamento, Vertumno, o Iosif Brodskii escreve:
Encontrei-te pela primeira vez em latitudes que dirias
estranhas (...)
e para mim eras deus, pois que sabias
mais do passado do que eu (o futuro
nesse tempo pouco me importava).
é curioso, porque até dois anos atrás eu só me interessava pelo passado. e depois passei somente a me interessar pelo futuro. eu só escrevo sobre o que me interessa radicalmente. e agora, José?
agora me interesso por este pensamento. porque chove, talvez.
#
não sei de onde vim, muito bem, não. para onde irei também desconfio, mal.
mas se me debruço com atenção no que já escrevi percebo que eu sempre sabia um pedaço de pra onde iria.
no momento, eu me interesso mais pelo futuro, porque ele me parece mais em branco e instável do que o passado. comovente passado, estou ficando velha?
o Bernardo disse uma vez sobre a maldade, e acho que se aplica ao conhecimento do futuro. "e se for como um cheiro?, um cheiro que sentimos mas não temos consciência disso".
#
o oráculo diz a Édipo o que realmente vai lhe acontecer e acontece, só que acontece de outro modo. é Édipo que conhece o seu destino como sendo o de outro, até ser o dele. o oráculo diz uma coisa que parece desconhecida.
como um filme que assistimos.
daí entro em pensar no "estar escrito", aquele famoso ditado "deus escreve certo por linhas tortas". me pergunto se essa noção de escrito aparece em quais culturas? é uma tradição hebraico-cristã?
há destino? uma dúvida é só um maior espaçamento entre as coisas.
#
uma multiplicidade de futuros, sim.
ou a situação do dizer a vida: é perder absolutamente, criar, descobrir ou mudar.
e os oráculos que funcionam? O I ching, linear e rizomático, se pergunto me concede instantâneos como uma fotografia polaroid. oráculos mexem com o subterrâneo etéreo áereo que nós somos. sempre sabemos e desconhecemos tudo, ao mesmo tempo. a grande-sopa inconsciente em que nadamos. quer dizer: está em nós mesmos aquilo que imaginamos. um oráculo é um espelho, um pouco opaco, que liberta uma imagem que já estava solta. de tão solta, não se via. um oráculo traz a imagem que você já tem. entende?
e é pouco, comparado ao que virá. na relação entre conhecimento e desconhecimento, estou presente de dúvidas.
Time present and time past
Are both perhaps present in time future,
And time future contained in time past.
(...)
Time past and time future
What might have been and what has been
Point to one end, wich is always present.
é algo parecido com essa a atenção que o budismo faz do tempo, acho. de que o presente é o ponto de convergência de virtualidades do passado e do futuro. o presente teria que ser assim um estar-se?
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acontece que nascemos e morremos e muita coisa acontece entre um acontecimento e o outro. há uma maneira crítica que se propõe a pensar a morte como uma necessidade de consciência, pensamento e confronto. porque não devemos nos alienar da morte. ela sempre se lembrará de nós. a morte é a pior das lembranças necessárias. se essa lembrança faz viver, melhor.
a maria zambrano escreve que não sabe porque não se tenta pensar o nascimento com o mesmo grau de mistério e confronto. o nascimento irradia uma energia implacável, não um cessamento, mas nem por isso é mais confortável.
se pensarmos no corpo-mundo, a morte não é um cessar, a morte também explode. se no singular uma imobilidade estúpida para um corpo tão lindo, tão vivo, num ponto de vista mais alargado a morte mostra o caráter oceano: de que cada ser vivo é uma gotícula orbitando-se num organismo planeta,. a morte vem torná-lo o que já é: carne do mundo, putrefação, adubo, cinzas.
mas somos seres históricos, sentimos saudades e gostamos uns dos outros.
e eu, pelo menos, dor e liberdade nos esquecimentos.
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lembro de um amigo contando que quando seu filho nasceu, a primeira coisa que o menino fez não foi chorar, mas sorrir.
e nos luminosos feixes de todas as coisas e tempos, mergulhar nas transparências sem fantasmas.
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penso que o passado tem as mesmas instâncias de desejo, medo e ilusão que qualquer vista de olhos tentando ater-se ao futuro. muito da literatura do século XX colocou-se a dizer isso. Proust, nosso campeão.
no primeiro poema do meu novo encantamento, Vertumno, o Iosif Brodskii escreve:
Encontrei-te pela primeira vez em latitudes que dirias
estranhas (...)
e para mim eras deus, pois que sabias
mais do passado do que eu (o futuro
nesse tempo pouco me importava).
é curioso, porque até dois anos atrás eu só me interessava pelo passado. e depois passei somente a me interessar pelo futuro. eu só escrevo sobre o que me interessa radicalmente. e agora, José?
agora me interesso por este pensamento. porque chove, talvez.
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não sei de onde vim, muito bem, não. para onde irei também desconfio, mal.
mas se me debruço com atenção no que já escrevi percebo que eu sempre sabia um pedaço de pra onde iria.
no momento, eu me interesso mais pelo futuro, porque ele me parece mais em branco e instável do que o passado. comovente passado, estou ficando velha?
o Bernardo disse uma vez sobre a maldade, e acho que se aplica ao conhecimento do futuro. "e se for como um cheiro?, um cheiro que sentimos mas não temos consciência disso".
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o oráculo diz a Édipo o que realmente vai lhe acontecer e acontece, só que acontece de outro modo. é Édipo que conhece o seu destino como sendo o de outro, até ser o dele. o oráculo diz uma coisa que parece desconhecida.
como um filme que assistimos.
daí entro em pensar no "estar escrito", aquele famoso ditado "deus escreve certo por linhas tortas". me pergunto se essa noção de escrito aparece em quais culturas? é uma tradição hebraico-cristã?
há destino? uma dúvida é só um maior espaçamento entre as coisas.
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uma multiplicidade de futuros, sim.
ou a situação do dizer a vida: é perder absolutamente, criar, descobrir ou mudar.
e os oráculos que funcionam? O I ching, linear e rizomático, se pergunto me concede instantâneos como uma fotografia polaroid. oráculos mexem com o subterrâneo etéreo áereo que nós somos. sempre sabemos e desconhecemos tudo, ao mesmo tempo. a grande-sopa inconsciente em que nadamos. quer dizer: está em nós mesmos aquilo que imaginamos. um oráculo é um espelho, um pouco opaco, que liberta uma imagem que já estava solta. de tão solta, não se via. um oráculo traz a imagem que você já tem. entende?
e é pouco, comparado ao que virá. na relação entre conhecimento e desconhecimento, estou presente de dúvidas.
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