hoje a gente foi ouvir uma fala que virou uma conversa.
cheguei em casa e pensei que meu tataravô (que é o meu personagem do momento) começa o capítulo três dizendo algo como, lá no século XIX:
"as pessoas estão acordando em um outro mundo. e ninguém sabe que mundo é este. não consigo dominar este estado de ansiedade. faz dias que esperava pelo calor para ir nadar. como ele não veio, fui assim mesmo."
então me lembrei que escrever é falar de mim. não consigo fugir do agora.
(...)
o que foi bonito na conversa das pessoas foi como as pessoas são expostas. quando uma pessoa fala cria-se uma atmosfera ao redor. o corpo tem gestos, é certo, tem uma respiração. a vida e seus instintos e intestinos, a vida se agita na fala. a fala, a cada dia mais, me parece um fluxo de moléculas visíveis e invisíveis, moléculas de vida.
o que mais me interessa numa fala é a atmosfera da pessoa enquanto ela fala, quem é ela? não sei. nem de mim. mas essa atmosfera reúne uma espécie de, não direi pureza nem ingenuidade, é uma atmosfera de fragilidade, direi melhor: é uma atmosfera de delicadeza.
estou dizendo que só viverei naquele
que se enfraquece de ternura, pena carne.
(...)
tem uma nuance nisso que pode parecer piegas, e talvez seja mesmo, que é a de preferir afirmar a delicadeza e a fragilidade de um corpo contra a violência e a morte.
(...)
uma das palavras que eu mais tenho visto e ouvido das pessoas lúcidas, e que às vezes elas são tão lúcidas que nem percebem o quanto a falam é: "horizontalidade". a escuto e vejo seja de gente pedindo pra que a mídia tenha posições mais abertas, sejam descrições das assembléias que têm acontecido, sejam dos grupos reunidos em fazeres coletivos que eu vejo por aí, "horizontalidade" é uma palavra vivíssima.
sou uma pessoa cartesiana?
ou praticarei ainda batalha naval?
isso porque logo pensei em eixos e no oposto, a "verticalidade" da hierarquia, do exército, dos ornanogramas empresariais, das árvores genealógicas,... "verticalidade" também me lembrou "vertigem". vertigem. vertigem.
já o horizonte é A imagem do futuro.
é o inesperado o em aberto o encoberto
aquele que a gente vê e que nunca chega
o horizonte, vendo ao barco
acelera e dispersa, pela frente
(...)
o horizonte? é nosso, meu bem.